Convivência

Parabéns para aquele que zela pela boa convivência


Postada em 29/11/2019 às 10:55
Por Marília Montich

Pixabay

Em 30 de novembro é comemorado o Dia do Síndico. A função, que já enfrentou muito preconceito, hoje parece finalmente estar alcançando os tão sonhados dias de glória. Com a crescente profissionalização, aquele que antes era comumente visto como o chato do condomínio agora ocupa lugar de destaque na gestão do bem material mais valioso de uma pessoa: seu imóvel.

Ao síndico é confiada a missão de cuidar do bem estar de uma comunidade inteira. Esse grupo pode abranger 20 famílias ou mais de 200, caso dos grandes condomínios que vimos nascer de alguns anos para cá. Para fazer tudo caminhar na mais perfeita harmonia é preciso ter jogo de cintura e conhecimento nas mais diversas áreas: jurídica, contábil e manutenção. Definitivamente não é para qualquer um.

O perfil do síndico vem mudando aos poucos, como explica Reginaldo da Silva, presidente da Abrascond (Associação Brasileira de Síndicos Profissionais de Condomínios). “Continuamos a ter um número maior de síndicos do que de síndicas, apesar de haver um aumento significativo das mulheres assumindo a gestão dos condomínios. Também observamos a chegada de um público mais jovem, tendo a tecnologia como grande responsável.”

Algumas características são indispensáveis para quem deseja ser um bom síndico. “São itens essenciais ser ficha limpa, ter referências profissionais e pessoais comprovadas, administrar o condomínio como uma empresa, ser certificado através de cursos especializados, ser focado no orçamento e na redução de custos e, principalmente, na valorização do patrimônio e ter total conhecimento da legislação que rege o condomínio, o que engloba o Código Civil, a convenção e o regulamento interno”, lista Marcos Druzilli, vicepresidente da Assosíndicos.

O presidente da Conasi (Confederação Nacional dos Síndicos), Sérgio Craveiro, destaca que o mercado tem requisitado cada vez mais o síndico profissional, ou seja, aquele que, em tese, está mais preparado para as demandas dos condôminos, mais exigentes com o passar do tempo. “Os proprietários dos imóveis compram sossego, e não imóveis. É isso que a construtora vende. Portanto, a procura pelo síndico profissional especialista, com educação continuada e antenado às mudanças em normas e leis, é importante.”

“Por incrível que pareça, ainda tem muita gente que não sabe o papel do síndico profissional. Na verdade, as pessoas acham que estão contratando um funcionário, um empregado, e não é nada disso. Elas estão elegendo um cargo de confiança. Eu acredito que o principal desafio hoje é fazer com que as pessoas entendam a função”, afirma Dostoiévscki Vieira Silbonne, fundador do Instituto Pró-Síndico e presidente do Iccond (Instituto Cidades e Condomínios).

Profissional ou não, os desafios da carreira são diversos, como aponta Druzilli. “É preciso que o síndico goste de pessoas e animais, promova uma gestão totalmente transparente, seja pacificador de problemas entre moradores, tenha a paciência como palavra-chave, uma boa comunicação com os condôminos e estabeleça um bom relacionamento com os fornecedores”, diz.

Regulamentação gera debate - A profissão de síndico ainda não é regulamentada. Projeto de Lei 348/2018, de autoria do senador Hélio José (PROS-DF), está em análise junto à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para alcançar tal objetivo. Dentre o que propõe, está a exigência de uma habilitação profissional certificada pelo Conselho Regional de Adminis-tração caso ele não seja morador do condomínio. Debate também sobre competências, renúncia, dever de prestação de contas, uso de procurações em assembleias e destituição. O assunto, contudo, é polêmico e divide opiniões. Se por um lado alguns aguardam ansiosamente pela aprovação, outros veem o tema com ressalvas.

O representante da Assosíndicos é um dos que se põe a favor do projeto. “Só tem a melhorar a qualidade do serviço, além ser uma nova profissão qualificada.”

O presidente da Conasi, porém, cita pontos a serem melhorados. Ele, inclusive, é autor de um anteprojeto, protocolado em 2015. “Eu sou favor da regulamentação, mas não da forma como foi colocada. Está faltando detalhar um pouco mais as atividades e atribuições do síndico dentro do condomínio.”

“Enquanto os que se dizem expert no assunto ou aqueles que só querem tirar proveito de alguma coisa tiverem à frente dessa questão, vamos estar à mercê de um pequeno grupo de pessoas mal intencionadas. Muito se fala em regulamentação da profissão, mas em nenhum momento foram convidados para a discussão síndicos que atuam nesse mercado. Pelo contrário: os que encabeçam esse debate são pessoas que querem simplesmente fazer reservas de mercado”, critica o líder da Abrascond.

O fundador do Pró-Síndico, por sua vez, destaca que muitas profissões estão caminhando para serem justamente desregulamentadas. O contrário, então, representaria retrocesso. “Já acabaram com a obrigatoriedade dos sindicatos como um todo e estão querendo extinguir os conselhos. Para que nosso mercado de condomínios, que tem um potencial grande, vai cair nas mãos de pessoas que vão querer de alguma forma enriquecer e atuar na liderança de forma política?”

Parceria que dá certo

Por Caroline Garcia

“Neném sem chupeta. Romeu sem Julieta. Sou eu, assim sem você.” A relação entre síndicos e administradoras de condomínio é exatamente como na música que ficou eternizada nas vozes de Claudinho e Buchecha nos anos 2000, um não consegue viver – ou melhor – trabalhar sem o outro.

Diferentemente da figura do síndico – cargo que é exigido pela legislação – é verdade que, por lei, o prédio não precisa, necessariamente, estabelecer um contrato com a administradora, no entanto, firmar esta parceria é, de longe, um facilitador do trabalho do gestor condominial, tanto para questões administrativas quanto financeiras.

E nessa via de mão dupla, a administradora, por sua vez, indica síndicos para empreendimentos que estão sob sua responsabilidade caso eles estejam sem um representante legal. O banco de dados de currículos geralmente é composto por portfólios que chegam pelos profissionais que batem na porta das empresas ou se apresentam por meio de redes sociais e, principalmente, via indicação de trabalhos anteriores.

“Avaliamos o tempo na função, características dos empreendimentos onde atua e já atuou, as melhorias educacionais que buscou, cursos, convenções, quais visões que possui fora do condomínio, além de consultarmos também as opiniões dos prédios em que já trabalhou”, conta Gisele Fernandes, Gerente Geral da OMA Administradora de Condomínios.

O perfil pessoal também é levado em consideração pelas prestadoras de serviços. “Para atuar em nossos condomínios recomendamos ser dinâmico, ter bom relacionamento com os moradores, ser criterioso no processo de escolha de empresas e fornecedores, ser bom gestor de equipe e dedicado às finanças. É importante que tenha formação superior em áreas relacionadas, como Administração, Direito e Engenharia, mas isso é uma pequena parte do processo. A boa experiência, dedicação ao prédio e a percepção de se antecipar à ‘dor’ do morador é fundamental no processo de gestão”, diz Marcio Bagnato, diretor comercial da Habitacional.

Além de todas essas características e análises, é imprescindível que o candidato a síndico esteja com o CPF em dia, como lembra José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo). “Por ser o representante legal do condomínio, o síndico precisa estar com o CPF sem débitos na Receita Federal por uma questão de exigências na mudança dos documentos do prédio.”

Após passar pelo crivo das administradoras e estar com o nome limpo, chegou a hora de enfrentar os conselheiros de seu possível futuro condomínio. “Levamos em consideração o perfil do empreendimento e, com base nisso, indicamos entre três a cinco profissionais da nossa lista para que o conselho faça uma espécie de sabatina com eles. O nome que for aprovado é levado aos moradores para que ratifiquem a decisão em assembleia de forma que a nomeação conste na ata do condomínio”, explica Gisele.

E começa ai uma parceria que acaba se repetindo conforme o desempenho do profissional, que pode ser indicado mais de uma vez pela administradora. “Temos muitos síndicos que se apresentaram com dois ou três condomínios e hoje contam com 12 ou 16 prédios na carteira”, afirma Bagnato.

Atualização – Para se manter bem conceituado no ramo, é de extrema importância que o síndico se atualize não só quanto às questões legislativas, mas em todos os assuntos que podem, de um jeito ou de outro, afetar o prédio.

“A vida em condomínio é um retrato micro, porém completo de uma cidade. Então todos os problemas que impactam a sociedade em si aca bam sendo vivenciados também dentro do empreendimento”, conta Gisele.

De acordo com Graiche Junior, quanto mais condomínios administrados, mais experiência no currículo. “Não adianta somente fazer um curso e pegar o certificado. Tem que passar pelo dia a dia, saber resolver os problemas que aparecem. É só a vivência de longo prazo que vai moldar o bom gestor.”

Para Marcelo Borges, diretor de Condomínio e Locação da ABADI (Associação Brasileira das Administradores de Imóveis), a previsão de mercado para os gestores condominiais é positiva. “É uma atividade do presente e do futuro, pois a vida agitada das pessoas tem inviabilizado a assunção do cargo de síndico por parte dos moradores, principalmente nos empreendimentos de médio e grande porte, acarretando cada vez mais na necessidade de escolha de um profissional externo.”

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